terça-feira, 15 de outubro de 2013

Americana, cidade que nos acolheu

Eu e minha família morávamos em Rancharia, interior de São Paulo, meu pai “tocava” uma roça para o nosso sustento e todos os filhos trabalhavam para ajudar. Eu e minha irmã mais nova fomos as duas únicas que não trabalhamos na roça, pois éramos muito pequenas, cheguei em Americana com apenas seis anos.
A primeira pessoa que veio para Americana, de minha família, foi minha irmã mais velha a Marilene, isso porque meus pais tinham compadres em Americana e falavam de melhores condições de vida.
E foi justamente isso que aconteceu, depois de uma longa viagem de trem chegamos a esta cidade grande, desenvolvida. Logo os meus irmãos mais velhos (éramos em um total de oito) arrumaram emprego em tecelagens, na época, anos 70, o setor têxtil estava em pleno desenvolvimento.
Era outra vida, menos sofrida. Foi em Americana que todos nós estudamos e buscamos melhores condições de vida. Alguns se casaram, constituíram família e o número foi aumentando, com a chegada dos genros, noras e netos. Foi nesta cidade também que construímos nossa casa, uma bela casa na Vila Biasi.
Em uma casa com muitos filhos, uma família grande, com dez pessoas, não foram poucas as vezes que aconteceram desentendimentos. E lá estava a figura de minha mãe que tinha a doce função de apaziguar sempre. Ela era uma mulher robusta, uma pernambucana brava, mas ao mesmo tempo uma mulher sem igual na luta por criar seus filhos e passar os melhores conceitos sobre moral e bom costume. Foi esta cidade, que nos acolheu com tanto carinho, que fui criada, educada, ensinada, por tantos professores. Só temos a agradecer.

Dia das crianças, momento para refletir...

No passado, um tanto distante, há algumas décadas, quando o assunto era criança vinha sempre acompanhado de um sentimento de ingenuidade, alegria, arte, as conhecidas traquinagens, mas algo muito saudável. Era muito bom ver a criançada correndo, pulando, brincando.
Infelizmente, muita coisa mudou. Com a falta da estrutura familiar e a mudança no comportamento da sociedade, a mulher/mãe mais atuante no mercado de trabalho e os pais ou responsáveis cada dia mais atarefados, surge, como reflexo disso, a ausência no lar.
Às vezes a falta de tempo ou mesmo o desinteresse é tão grande que passa despercebido que aquela criancinha está crescendo, e não se observam as companhias e mudanças no comportamento. O que a criança não teve em casa vai buscar fora, e nem sempre acha o que é de melhor.
É triste abrimos o jornal, assistirmos a uma reportagem, ouvir uma noticia no rádio ou ler na internet casos de crimes que envolvem crianças com 10, 11 anos. No meio de quadrilhas que roubam, com pessoas que matam, se prostituindo, se drogando. Onde estão os responsáveis por estes menores que muitas vezes não tem noção do que estão fazendo ou da dimensão do estrago que podem causar? Os corações vão se endurecendo e a banalidade imperando, rouba-se e mata-se por quase nada.  Muitas vezes, os responsáveis estão também neste meio.
Somos todos culpados, a sociedade é culpada pelo degringolar dos conceitos. O que podemos fazer para que isso não se torne ainda pior? Existem muitas instituições, entidades, Ongs, pessoas preocupadas que trabalham valores e conceitos morais, mas não são suficientes. É preciso muito amor para trabalhar com o próximo e transmitir o que é bom. É preciso ainda insistência, paciência e compreensão.
Não podemos fechar os olhos e fingir que isso não está acontecendo ou simplesmente ignorar entendendo que em nossa família está tudo bem. Será? Mesmo que esteja, qualquer um pode ser afetado com o que acontece no dia a dia, nem que seja com o mal estar causado por estas pequenas vidas que sofrem.
Temos sim, ainda, muitas situações com crianças que nos remetem a ingenuidade e a alegria. Mas é preciso abrir os olhos, ver as mudanças e pensar o que podemos fazer para que isso não se perca.